ameaças
Figura 1. A pecuária extensiva sobre campo nativo no Pampa: atividade histórica que quando bem manejada resulta em uso da terra ecologicamente sustentável, mais compatível com a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos locais. Região dos Campos com barba-de-bode, Tupanciretã.
Figura 2. Uso da Terra no bioma Pampa brasileiro (MapBioma 2019).
Figura 3. Os campos nativos estão desaparecendo: vastas áreas do Pampa são dessecadas com herbicida e lavradas para dar lugar à soja. No detalhe: pequenas áreas úmidas, que normalmente mantém grande diversidade de plantas e animais, não são poupadas pela contaminação agrícola e pelas modificações do relevo. Municípios: Dom Pedrito e São Sepé.
Figura 4. A silvicultura produz uma nova paisagem no Pampa, com baixo valor para a conservação da biodiversidade. No detalhe: interior de lavoura de eucalipto, cuja aridez e sombreamento impedem o crescimento de vegetação rasteira. Municípios: Alegrete e São Gabriel.
Figura 5. Antigos locais de mineração no Pampa são verdadeiros exemplos de terra arrasada, incluindo depósitos de água acidificada e contaminada por diversos minerais. A nova corrida da mineração inclui megaprojetos para a exploração de carvão mineral, fosfato, cobre, chumbo, zinco, entre outros. Município: Caçapava do Sul.
Figura 6. Exemplos de invasores vegetais no Pampa: A) o campim-annoni (Eragrostis plana), gramínea cespitosa africana introduzida e cultivada como possível forrageira durante anos, hoje é considerada como a planta invasora mais importante na região; B) o tojo (Ulex europaeus), arbusto espinhoso europeu introduzido para fins ornamentais e de cercas-vivas (município de Piratini), forma adensamentos em margens de estradas e coxilhas rochosas. Ambos excluem a vegetação nativa, alteram as comunidades e diminuem o potencial forrageiro das áreas afetadas. Municípios: São Gabriel e Piratini.
Ameaças à conservação da biodiversidade Pampeana
A pecuária extensiva corresponde ao uso histórico (tradicional) da maior parte dos campos subtropicais na América do Sul (Brasil, Uruguai e Argentina) (Figura 1). Evidências fósseis sugerem que o pastoreio não é um fator novo nessa região, já que os ecossistemas campestres na América do Sul coevoluíram com grandes herbívoros desde ~25 milhões de anos.
Figura 2. Uso da Terra no bioma Pampa brasileiro (MapBioma 2019).
Assim, a ocorrência de distúrbios como o pastejo controlado é considerada parte essencial na dinâmica dos ecossistemas campestres, contribuindo para a manutenção da alta diversidade biológica no Pampa (VEJA), bem como constituindo (se bem manejado) alternativa de uso ecologicamente sustentável.
Infelizmente, a matriz produtiva está mudando e restam apenas 45% da cobertura vegetal original no Pampa brasileiro (Figura 2), principalmente devido à conversão da vegetação natural por áreas agrícolas e de silvicultura. A perda de habitat pampeano tem acelerado nas últimas décadas. Entre 2000 e 2019, alarmantes 21% da cobertura natural foram perdidos, principalmente em função da expansão da soja (Figura 3) e da silvicultura.
Com a profunda mudança na matriz produtiva, os remanescentes campestres naturais muitas vezes ficam concentrados em regiões de relevo mais acidentado e solo rochoso, pouco adequados para a produção de grãos. Entretanto, mesmo tais regiões são alvo da exploração e degradação, por conta da silvicultura (plantio de pinus, eucalipto e acácia-negra) (Figura 4) e da mineração (Figura 5).
Espécies exóticas invasoras são outra ameaça à conservação do Pampa, pois avançam espontaneamente na paisagem, excluem espécies nativas e alteram o funcionamento dos ecossistemas naturais. Como exemplo de plantas exóticas invasoras no Pampa, é preciso citar o capim-annoni e o tojo (Figura 6), bem como o pinus (Pinus spp.) e a acácia-negra (Acacia mearnsii). Além dos danos ecológicos, esses invasores acabam prejudicando atividades econômicas como a pecuária extensiva, pois reduzem a oferta de forragem para os animais de criação.
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